Nos 30 minutos de folga que tínhamos para jantar no domingo à noite, antes dar início aos exaustivos preparativos para colocar nosso filho de seis anos para dormir, meu marido colocou aleatoriamente uma série para nos distrairmos enquanto comíamos. Queríamos assistir algo leve e que não exigisse muita compreensão. O streaming recomendou a americana ‘Não Estou Morta! (Not Dead Yet)’. Só deu tempo de ver dois episódios, mas foi o suficiente para me deixar pensativa sobre não ser ‘o que’ mas ‘como’ fazemos as coisas.
Não Estou Morta!’ é uma sitcom de televisão americana criada por David Windsor e Casey Johnson para a ABC, inspirada no livro Confissões de uma merda de quarenta e poucos anos (Confessions of a Forty-Something F**k Up), de Alexandra Potter. A primeira temporada estreou em fevereiro do ano passado, e a segunda será lançada daqui um mês.
Como mencionei, só assisti aos dois primeiros episódios, então o que vou escrever daqui por diante não será spoiler e estragará qualquer surpresa de alguém que se interesse em acompanhar a série.
A primeira coisa que me atraiu foi o fato de a personagem principal, Nell Serrano (Gina Rodriguez), ser uma repórter. Amo quando contam histórias de jornalistas. Deve ser porque tem certa identificação. Continuando, Nell retoma a carreira nos Estados Unidos cinco anos após ter deixado tudo para trás e ir morar em Londres como o namorado.
O relacionamento termina, e ela volta para a antiga empresa, porém não para o mesmo cargo que tinha quando estava em ascensão. Dessa vez, ficou com os obituários, aparentemente uma função pouco interessante para uma profissional capaz como Nell.
Aproveitamento total
Além de talentosa, Nell é ambiciosa. Não contente com o cargo, tentou pular etapas ao escrever e publicar uma reportagem investigativa sem o conhecimento dos superiores, mas a ousadia foi frustrada, quase lhe custou o emprego e a matéria foi retirada do ar imediatamente após a chefia notar a publicação.
Em contrapartida, os desprezados obituários estavam aos poucos chamando a atenção dos leitores do jornal, agradando principalmente aos amigos e familiares dos falecidos homenageados.
O que ninguém sabe na redação é que Nell conta com, digamos, contribuições pessoais para escrever sobre as pessoas que morreram. Logo na primeira demanda, a protagonista descobre que pode interagir com o fantasma daqueles sobre os quais ela está redigindo.
Dessa forma, eles conversam, contam suas histórias, dão conselhos, e assim, com as informações privilegiadas e maestria com as palavras, Nell produz textos lindos sobre seus “novos amigos”, que logo após a publicação desaparecem.
Isso foi tudo que assisti até agora. Não tenho ideia se conseguirei acompanhar os próximos episódios. ‘Não estou morta!’ é uma série fantasiosa, eu sei, entretanto, esse pouco que vi me trouxe algumas reflexões de como utilizamos os recursos que a vida nos dá. Nell fez o melhor que podia com as ferramentas que tinha em mãos, que são a possibilidade de entrevistar os mortos e o talento na escrita.
A forma respeitosa, profissional, dedicada e primorosa de escrever, fez com que a editoria de pouca audiência começasse, mesmo que timidamente, a se sobressair. Até o momento, ela não havia se dado conta de que o motivo do destaque não é o obituário ou as pessoas, mas sim, como ela está escrevendo os textos pós morte e como aproveita os meios à sua disposição.
Isso me fez pensar se estou desperdiçando ou fazendo bom uso de meus recursos.
Apenas faça o seu melhor
Às vezes, a vida parece injusta. Para a maioria de nós, o caminho é mais longo e tortuoso do que para uma minoria privilegiada que recebe, sem esforço ou quase nenhum esforço, todas as condições de sucesso.
Aliás, isso me lembra a música ‘Me diga’ do Nando Reis que diz o seguinte:
“Se eu acordo preocupado
Com as providências como uma conta no banco
Que eu não tenho dinheiro pra pagar
Isso me aflige e atrapalha
Faz com que eu não me dê conta
De outras coisas que eu deveria cuidar”
Diante desse fato, a nós, os ‘guerreiros’, que precisamos lutar diariamente pela sobrevivência, cabe escolher esperar pelas armas perfeitas ou, ao menos, buscar com as ferramentas conquistadas mais leveza na dura rotina.
Não estou de forma alguma romantizando as dificuldades e o sofrimento ou pregando meritocracia, longe disso. O que estou querendo dizer é que se temos menos oportunidades, então não podemos nos dar ao luxo de perder nenhuma. Ao contrário, já que são tão poucas, temos que aproveitar ao máximo cada uma delas, por menor que seja.
Digo mais, mesmo que pareça pequeno, entregue sempre o seu melhor. Não para surpreender chefes, empresas, clientes ou quem quer seja, pois provavelmente não terá o reconhecimento esperado e irá se frustrar. Faça, primeiramente, por você, para sua satisfação pessoal. É fundamental sentir orgulho de nossos feitos. Faz um bem danado para nossa autoestima e, de quebra, nos encoraja a dar passos maiores.
Segundo, ao nos aperfeiçoarmos, nos preparamos para reconhecer e agarrar oportunidades melhores, quando elas surgirem. Talvez no momento você não enxergue a grandiosidade do que está fazendo, mas certamente, nesse processo, outras portas se abrirão ou, no mínimo, sua mente será ampliada e te dará direções promissoras. É preciso estar pronto para montar o cavalo selado.
Grande ou Pequeno: uma questão de ponto de vista
Sempre que algum assunto vai repercutir na mídia, eu assisto às reportagens de todas as emissoras para observar como cada equipe entrega a matéria. Meu interesse aumenta quando participei dessa cobertura. Obviamente, comparo meu trabalho com os dos colegas. Afinal, sou minha principal crítica, e assim, analiso como melhorar na próxima.
Algumas matérias ficam parecidas, mas nenhuma é igual a outra. Em alguns casos, penso que poderia ter feito muito mais se tivesse acesso aos recursos ideais. Mas, logo aceito que que fiz o melhor que poderia naquelas circunstâncias.
O mesmo trabalho poderá ser feito por pessoas diferentes com meios equivalentes ou não, o resultado nunca será igual. Pois, cada um emprega um significado próprio à obra. Pode ser muito importante para alguns e indiferente para outros. Além do mais, os motivos para estar ali variam e são pessoais.
Dependendo de quem executa, um grande projeto fracassa, e o pequeno se torna um sucesso. Nas mãos certas e pelo propósito certo, qualquer sonho floresce, se torna grandioso. Talvez não saia exatamente como imaginamos, isso não quer dizer que foi malsucedido, não se entregamos o melhor de nós.
De repente, se mudar o ponto de visão, enxergue tudo que foi e é capaz de alcançar. A forma como você faz as coisas pode te levar longe, a cenários maravilhosos, a conquistas incríveis, ou a lugar nenhum. Portanto, dê atenção ao que realmente importa para você.
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