Como foi que isso aconteceu? Como cheguei a essa situação? Por que isso me ocorreu? Essas perguntas aparecem em diversos momentos ao longo da vida. A resposta é simples: são as escolhas que fazemos diariamente, o famoso livre arbítrio. São essas decisões, pequenas ou grandes, que determinam onde vamos e a rota de quem vamos cruzar.
Você pode até dizer que, em determinadas horas, ficou sem saída. ‘Não tinha o que fazer, a não ser ir embora’, ou ‘Fulano me deixou sem opção, fui obrigado a tomar uma atitude rígida’ ou ainda ‘tenho que continuar nesse emprego ruim porque preciso do salário’. Repare que, até quando aparentemente dizemos que ficamos sem escolha, fazemos uma escolha.
No primeiro caso, a escolha foi ir embora; no segundo, tomar uma providência; e o terceiro deu preferência à necessidade de dinheiro. Estamos o tempo todo decidindo sobre alguma coisa. Às vezes, são decisões importantes que podem mudar totalmente o destino, e por isso, ocupa nosso pensamento por dias. Já outras são supostamente tão insignificantes que nem percebemos, vão no automático, mas talvez façam diferença no futuro.
Ah! Lembrando que seguir como na música do Zeca Pagodinho, deixando a vida te levar aonde quiser, também é uma escolha.
Fatores decisivos
Nem sempre o motivo desta ou daquela decisão é racional; por vezes, agimos inconscientemente, por impulso ou necessidade. Pode ser que nem dê tempo de avaliar as possibilidades, pois a resposta precisa ser imediata. Então, simplesmente fazemos uma opção qualquer.
O que leva alguém a tomar este e não aquele caminho pode estar ligado a diversos fatores, como: experiência ou falta dela, necessidade, cultura, sentimentos, personalidade, influência, espiritualidade, prioridades e tantos outros, que, juntos ou isoladamente, a fazem seguir aquela direção, naquele momento.
Tanto as escolhas bem pensadas e planejadas como as inconscientes e menos importantes tem suas razões de ser. Em alguns casos, sabemos com clareza qual ou quais são, e em outros, entretanto, talvez nunca compreenderemos o porquê.
E se…
A escolha cabe a nós, mas as consequências geradas por ela não. Nós temos as motivações para ponderar que atitude tomar. Podemos planejar uma ação, investir naquela direção, no entanto, nada nos garante que nossas expectativas serão alcançadas ou superadas. Portanto, cada passo, por mais meticuloso que seja, ainda é uma aposta com probabilidade de pelo menos 50%. É aquela história do ‘o não eu já tenho, vou atrás do sim’.
Ai, quando chegamos a determinada altura da jornada, começa a autorreflexão do ‘e se’. Não sei se isso já ocorreu com você, pois comigo perdi as contas. Vira e mexe fico me questionando como seria se tivesse seguido em outro sentido.
E se eu tivesse aguentado mais pouquinho, será que faria diferença no resultado? E se tivesse me arriscado mais? Se tivesse me dedicado a outro projeto? Seria melhor ter ficado? Quem sabe se tivesse insistido? E se tivesse desistido? E se tivesse sido mais firme? Como seria se tivesse feito de outra forma? E se eu tivesse feito outra escolha? E se… são muitos ‘e ses’ com infinitos cenários. Minha mente cria múltiplos multiversos com cada uma das possibilidades.
Sem garantias
No final das contas, chego sempre à mesma resposta: não faço a menor ideia de como seria se tivesse feito escolhas diferentes das que fiz até agora. A verdade é que não tem como saber. Uma vez que a vida real não funciona como na ficção. A gente simplesmente escolhe o que julga ser a opção mais acertada naquele momento e torce pra dar certo.
No entanto, a parte boa é que podemos mudar sempre ao percebermos que aquela alternativa deixou de ser a mais adequada. Nós podemos escolher novas escolhas no meio da jornada. Isso não significa que todas serão fáceis, mas pelo menos existe a possibilidade de alterar a rota, ainda que seja somente outra tentativa sem garantias.
Impacto das ações
Acredito que nada acontece do nada, nem de repente. Tenho pra mim, que as coisas vão sutilmente se encaminhando para certo desfecho, conforme as escolhas que fazemos. Se não gostamos do rumo que a vida está tomando, cabe a nós fazermos tentativas diferentes para quem sabe ter um resultado mais perto do almejado.
Contudo, você pode estar se perguntando: quanto as fatalidades e as coisas inesperadas que nos acometem seriam também fruto de nossas escolhas? Eu diria que talvez sim e talvez não. Acredito que o extraordinário, a fatalidade, a surpresa, o milagre, a tragédia e situações alheias à nossa vontade, acontecem por algum motivo, seja por escolhas equivocadas nossas ou de outrem, seja para aprendizado.
Cada um pode escolher o que fazer com aquela experiência, levando em consideração o que acredita e o que consegue fazer diante do ocorrido. As pessoas podem reagir de maneiras distintas por motivos diferentes, e por isso as decisões são individuais, mas, ao mesmo tempo, podem afetar muitas outras pessoas ou comunidades, tanto para o bem quanto para o mal.
É importante reforçar que vivemos em sociedade, e todas as nossas ações, além de nos atingirem, podem impactar de alguma maneira desde quem nos rodeia até aqueles que nada tem a ver com a situação.
Linha do tempo
Todas as vezes que me vejo questionando como e por que cheguei a determinada situação, começo a puxar o fio da memória. Busco cada passo que me levou até aquele exato momento. Então, minha mente é tomada pelo ‘e se’.
Na fase seguinte, lembro que tomei tais decisões de acordo com as ferramentas emocionais que dispunha na época, e muito provavelmente, por conta dessas decisões, me tornei quem sou hoje. Um exercício mental que serve de consolo momentâneo e ajuda nas próximas escolhas.
Fato é que vamos construindo a vida todos os dias um pouquinho. Às vezes, acertamos o cálculo da rota, ou apenas nos iludimos achando que estamos no caminho planejado, quando na verdade pegamos a estrada oposta sem perceber, ou quem sabe, no máximo estamos em uma paralela. Ou simplesmente, só andamos, sem perceber aonde nossas ações estão nos levando.
Assim, o tempo vai passando, e quanto mais ele passa, mais claro ficam os passos dados do passado até agora e o porquê de cada um deles. Já o futuro, o futuro continua sendo uma aposta, e o presente um jogo incansável de tentativa e “erros”, ou melhor, tentativas e experiências.
Recomendação
Sobre esse tema, recomendo a leitura da crônica ‘Versões de mim’, do maravilhoso Luis Fernando iVerissimo. Ela faz parte do livro ‘Em Algum Lugar do Paraíso’. O texto faz uma reflexão sobre as escolhas que fazemos na vida, e por mais que tentemos, nunca saberemos como seria nossa vida se tivéssemos tomado decisões diferentes. Vou deixar um trechinho para aguçar a curiosidade.
“Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que poderíamos ter sido. Ah, se apenas tivéssemos acertado aquele número (unzinho e eu ganhava a sena acumulada), topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito sim, dito não, ido pra Londrina, casado com a Doralice, feito aquele teste…”.
(Luis Fernando Verissimo)