{"id":5848,"date":"2023-01-10T23:24:00","date_gmt":"2023-01-11T02:24:00","guid":{"rendered":"https:\/\/adrianacardoso.me\/?p=5848"},"modified":"2024-01-07T19:26:52","modified_gmt":"2024-01-07T22:26:52","slug":"glamour-no-jornalismo-sera-que-e-real","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/adrianacardoso.me\/blog\/glamour-no-jornalismo-sera-que-e-real\/","title":{"rendered":"Glamour no jornalismo"},"content":{"rendered":"\n

Na inf\u00e2ncia, eu tinha dois sonhos: ser uma mulher independente em todos os sentidos e me tornar jornalista. Quando crian\u00e7a, assistia aos telejornais e me imaginava sendo uma das rep\u00f3rteres. Apesar de ser uma menina t\u00edmida, me sentia capaz de fazer aquele trabalho se me dedicasse o bastante.<\/p>\n\n\n\n

A imagem que eu tinha deles era de pessoas s\u00e9rias e inteligentes, viajando pelo mundo, presentes em fatos importantes, acompanhando investiga\u00e7\u00f5es, denunciando crimes, se aventurando em busca de cumprir sua responsabilidade social, participando e testemunhando a hist\u00f3ria diante de seus olhos.<\/p>\n\n\n\n

Ah, como eu queria ser como eles. Aqueles jornalistas escreviam t\u00e3o bem, falavam de assuntos diferentes com propriedade. Como eles sabiam tanto sobre tantas coisas? Ser\u00e1 que seria como nos filmes de reportagem? Parecia ser tudo t\u00e3o emocionante.<\/p>\n\n\n\n

Eu tamb\u00e9m queria ter aquela vida. Ficava imaginando como seria cobrir uma guerra, eventos esportivos, ver de perto atos pol\u00edticos que mudaram os rumos da na\u00e7\u00e3o, mostrar a reconstru\u00e7\u00e3o de lugares devastados, entrevistar celebridades e estar nos bastidores de grandes shows, ou simplesmente contar hist\u00f3rias de pessoas comuns que fazem a diferen\u00e7a e quase ningu\u00e9m percebe. <\/p>\n\n\n\n

Para minha felicidade, anos depois tive a oportunidade de vivenciar tudo isso, com exce\u00e7\u00e3o das guerras; dessa parte desisti ainda na faculdade quando li biografias de rep\u00f3rteres que cobriram guerras. <\/p>\n\n\n\n

Pensando bem, mesmo assustada com as hist\u00f3rias e correndo risco de comprometer minha sa\u00fade mental, acho que teria ido sim se houvesse oportunidade. Deve ser uma experi\u00eancia e tanto. Olha, \u00e9 um caso a se repensar. Ou n\u00e3o. Melhor n\u00e3o. Agora sou m\u00e3e, tenho filho ainda pequeno para criar.<\/p>\n\n\n\n

Choque de realidade<\/h2>\n\n\n\n

Bem, passado os devaneios que me desviaram por alguns minutos do tema desse post, voltemos ao assunto do glamour no jornalismo que, na verdade, nada tem de glamuroso. Pelo contr\u00e1rio, \u00e9 muita labuta e pouca valoriza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Ao trabalhar em uma reda\u00e7\u00e3o diariamente, entendi que nem tudo era exatamente como eu pensava. Lamentavelmente, nem todo jornalista \u00e9 de fato inteligente, respons\u00e1vel pelo que noticia, ou totalmente  imparcial e comprometido com a informa\u00e7\u00e3o. Sem contar que a remunera\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 l\u00e1 essas coisas, salvo raros cases<\/em> de sucesso, dificilmente algu\u00e9m ficar\u00e1 milion\u00e1rio nessa profiss\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Entretanto, por sorte, a grande maioria dos profissionais, assim como eu, \u00e9 apaixonada pelo que of\u00edcio, apesar do sal\u00e1rio e da desvaloriza\u00e7\u00e3o geral, pois sabemos o qu\u00e3o intensa e importante \u00e9 a nossa miss\u00e3o, que nos \u00faltimos tempos incluiu tamb\u00e9m combater \u00e0 dissemina\u00e7\u00e3o de not\u00edcias falsas.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Atualmente, infelizmente, de acordo com a legisla\u00e7\u00e3o, n\u00e3o \u00e9 obrigat\u00f3rio um diploma universit\u00e1rio para atuar como jornalista, e o que vemos \u00e9 um grande n\u00fameros pessoas sem nenhuma prepara\u00e7\u00e3o ou par\u00e2metros \u00e9ticos divulgando not\u00edcias indiscriminadamente, verdadeiras ou falsas, sem avaliar o impacto que tal informa\u00e7\u00e3o pode causar, visando apenas visualiza\u00e7\u00f5es e likes.<\/p>\n\n\n\n

A boa not\u00edcia \u00e9 que os grandes ve\u00edculos de comunica\u00e7\u00e3o, com reputa\u00e7\u00e3o a zelar, em praticamente 98% das vezes d\u00e3o prefer\u00eancia em contratar jornalistas formados, que tenham responsabilidade com aquilo que publicam. <\/p>\n\n\n\n

Agora, voc\u00ea pode me questionar, com raz\u00e3o, mas as grandes empresas tamb\u00e9m competem por audi\u00eancia, e \u00e0s vezes pesam a m\u00e3o. Sim, de fato, isso acontece, por\u00e9m numa propor\u00e7\u00e3o inferior, e depois de uma avalia\u00e7\u00e3o de risco. Obrigatoriamente, de praxe, antes de publicar qualquer mat\u00e9ria, os jornalistas checam minuciosamente todas as informa\u00e7\u00f5es com comprova\u00e7\u00f5es, e procuram as pessoas envolvidas para obter sua vers\u00e3o da hist\u00f3ria.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, tanto as empresas quanto os profissionais que \u2018bancaram\u2019 a divulga\u00e7\u00e3o da informa\u00e7\u00e3o s\u00e3o responsabilizados em v\u00e1rias esferas por seus atos, acrescentado o dever moral de reparar de alguma forma a situa\u00e7\u00e3o.\u00a0\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Igual mas diferente<\/h2>\n\n\n\n

A rotina em uma reda\u00e7\u00e3o de jornal \u00e9 aparentemente comum,assim como em qualquer empresa. Os jornalistas s\u00e3o funcion\u00e1rios que cumprem hor\u00e1rio semanal e escalas de plant\u00f5es, respeitam a hierarquia do setor, esperam um dia serem promovidos ou se aposentarem, atendem \u00e0s demandas di\u00e1rias da fun\u00e7\u00e3o etc.<\/p>\n\n\n\n

Assim como em outras forma\u00e7\u00f5es, o jornalista \u00e9 habilitado em fun\u00e7\u00f5es diferentes. Por exemplo, pode ser rep\u00f3rter, apresentador, produtor, editor, redator, diretor e tantas outras em qualquer das editorias. <\/p>\n\n\n\n

No entanto, a nossa profiss\u00e3o tem uma peculiaridade. Apesar de seguir um padr\u00e3o e uma rotina de trabalho, jamais, em hip\u00f3tese alguma, um dia ser\u00e1 igual ao outro. Em tantos anos de carreira, nunca tive um dia de trabalho que fosse parecido com o outro. <\/p>\n\n\n\n

Numa mesma jornada, circulamos por mundos opostos e semelhantes. Podemos registrar as mazelas em um bairro paup\u00e9rrimo e, no momento seguinte, ser recebidos em gabinetes de autoridades, ouvir hist\u00f3rias de pessoas simples de pouco estudo mas muita sabedoria e, em seguida, entrevistar intelectuais.<\/p>\n\n\n\n

No mesmo dia noticiamos sobre economia, pol\u00edtica, viol\u00eancia, esporte, entretenimento. Al\u00e9m disso, o jornalismo levanta debates sobre assuntos s\u00e9rios, alerta sobre o tr\u00e2nsito, leva op\u00e7\u00f5es de cultura e arte, d\u00e1 voz \u00e0queles que raramente tem condi\u00e7\u00f5es de se fazer ouvir. \u00a0<\/p>\n\n\n\n

Tudo isso d\u00e1 trabalho. Enfrentamos chuva<\/a>, sol, calor, frio, lama, poeira, intermin\u00e1veis ch\u00e1s de cadeira, portas fechadas na cara, gente mal-humorada, amea\u00e7as\u2026 \u00e9 cada humilha\u00e7\u00e3o que voc\u00ea nem faz ideia. Fora a correria para entregar o material e as cobran\u00e7as de todos os lados. A gente se diverte, ri, chora, se revolta, se indigna, se conforta, sente al\u00edvio, agradece, tudo num dia s\u00f3. Uma verdadeira loucura. Digo mais: \u00e9 t\u00e3o cansativo quanto recompensador.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Sempre vale a pena<\/h2>\n\n\n\n

E vou te contar, d\u00e1 um orgulho danado ver uma produ\u00e7\u00e3o bem feita publicada. Afinal, sabemos o trabalho deu, a dedica\u00e7\u00e3o que foi necess\u00e1rio para alcan\u00e7ar o resultado. Mais satisfat\u00f3rio ainda \u00e9 quando alguma reportagem surte efeito e melhora a vida de algu\u00e9m.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 muito gratificante quando um bairro recebe benfeitorias ap\u00f3s o jornal mostrar a insatisfa\u00e7\u00e3o dos moradores esquecidos pela gest\u00e3o p\u00fablica, ver a justi\u00e7a sendo feita com a visibilidade de den\u00fancias e do apelo popular, ou uma mat\u00e9ria sobre golpes evita que novas v\u00edtimas sejam lesadas. Quando uma reportagem triste comove e incentiva a solidariedade, ou uma hist\u00f3ria de supera\u00e7\u00e3o inspira outras tantas, ou quem sabe uma entrevista fofa que alegra o dia de algu\u00e9m.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Esses s\u00e3o apenas alguns exemplos de como o jornalismo respons\u00e1vel pode fazer a diferen\u00e7a na vida de muita gente, inclusive nas nossas. Pois, cada mat\u00e9ria \u00e9 uma emo\u00e7\u00e3o particular. Gra\u00e7as a minha profiss\u00e3o, tive a oportunidade de conhecer pessoas e lugares que jamais teria condi\u00e7\u00f5es se n\u00e3o fosse o trabalho.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

O jornalista aprende algo novo constantemente, aprende com os fatos, com os entrevistados e com os lugares e ambientes por onde passa. N\u00e3o somente aprende sobre o tema da mat\u00e9ria, mas principalmente sobre a vida e o ser humano. <\/p>\n\n\n\n

\u00c9\u2026 a vida real \u00e9 bem diferente daquela que idealizei nos meus sonhos infantis ou retratada nos filmes, j\u00e1 os sentimentos projetados por eles, ah! esses n\u00e3o. Eu continuo t\u00e3o encantada e apaixonada pela minha profiss\u00e3o quanto imaginava quando era crian\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Apesar da realidade n\u00e3o ser um conto de fadas, nem de longe glamourosa, ainda \u00e9 aquela que me faz brilhar os olhos e ter a certeza de que fiz a escolha certa e que quero continuar vivendo. N\u00e3o me vejo trabalhando em qualquer outra coisa. Me sinto totalmente realizada nessa \u00e1rea.<\/p>\n\n\n\n

Curiosidade<\/h3>\n\n\n\n

A foto de capa representa um dos milhares de perrengues pelos quais as equipes de jornalismo passam nas ruas. Naquele dia, est\u00e1vamos nos preparando para entrar ao vivo, e o rep\u00f3rter cinematogr\u00e1fico quis enquadrar na imagem o banner colocado no alto do pr\u00e9dio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pra atingir tal objetivo, tive me equilibrar de salto alto em cima de caixas dos equipamentos. Detalhe: ventava bastante no momento, mas no final deu tudo certo.<\/p>\n\n\n\n

Vou deixar aqui embaixo como ficou essa entrada ao vivo no ar. <\/p>\n\n\n\n

Voc\u00ea tamb\u00e9m pode conferir um pouco das minhas aventuras jornal\u00edsticas na aba Portf\u00f3lio<\/a> ou no Youtube<\/a> ou nas minhas redes sociais<\/a>.  <\/p>\n\n\n\n

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